LESÕES NA CORRIDA

Melhorar a Velocidade e Técnica de Corrida


Treino para o Quadril de Corredores


O treinador Budd Coates ensina alguns exercícios para a melhora da força e flexibilidade no quadril para corredores recreacionais

(Treino Completo - clique aqui)

Fraqueza dos músculos do quadril, principalmente abdutores e rotadores externos, tem sido "acusados" de serem uma das causas das lesões em corredores, incluindo a síndrome da banda iliotibial e a dor patelofemoral (LENHART et al, 2014). Seu treinamento e condicionamento, está sendo utilizado como estratégia de prevenção e tratamento destas e de outras patologias dos membros inferiores decorrentes da corrida.

FONTE: http://www.runnersworld.com/


OSTEOARTROSE e CORRIDA

A osteoartrose (OA) é a alteração articular mais comum nos adultos acima de 50 anos e contribui significativamente para diminuição na capacidade funcional. Será que os indivíduos corredores de longa distância a desenvolvem com mais prevalência, em função de se tratar de uma modalidade de esporte de alto impacto? Será que existe esta relação? Chakravarty et al (2008) realizaram um estudo que tinha como objetivo tentar responder esta questão. Os autores do estudo acompanharam 961 sujeitos, divididos em dois grupos, o grupo de corredores (G1; n=538) e grupo controle (GC; n=423). Radiografias dos joelhos foram feitas em seis oportunidades (1984, 1986, 1989, 1993, 1996 e 2002) em ambos os grupos. Todos os sujeitos responderão a um questionário com dados demográficos, história médica, IMC, pratica de exercícios, lesões musculoesqueléticas e status funcional através do HAQ-DI (Health Assessment Questionnaire Disability Index). 
Após a avaliação observou-se que não havia diferenças entre os grupos, os corredores não apresentavam sinais mais precoces e graves de OA avaliados pelas radiografias do que os sujeitos do GC. Esses dados são consistentes com outros estudos (CHENG Y (2000); PANUSH RS(1986); HANNAN MT (1993)) e levam a concluir que a corrida pode não ser fator de risco para as gonartrose e muito menos mecanismo de proteção. No entanto, estes achados não são sustentados por outros estudos, que observaram associação entre esportes de impacto como ballet, futebol e levantamento de peso, com OA.
A força destes resultados está no tempo de observação, quase duas décadas, algo que não foi realizado nos demais. A limitação fica por conta da ausência de avaliação dos sintomas clínicos, já que estudos mostram que não há concordância entre sintomas clínicos e danos mostrados no raio-x, ou seja, nem sempre sinais radiográficos de OA concordam com a presença de sinais como dor. É bom lembrar que os sujeitos selecionados eram saudáveis, que corriam mesmo após a 6ª década de vida, em função disto, há necessidade de cautela na generalização dos resultados quando se tratar de sujeitos que estão iniciando a pratica da atividade.

FONTE: Long Distance Running and Knee Osteoarthritis A Prospective Study; Am J Prev Med. 2008 August ; 35(2): 133–138.



Lesões no Pé e Tornozelo durante a Corrida

As lesões que ocorrem no pé e tornozelo durante a corrida, representam 1/4 de todas as lesões comuns em corredores. A cintilografia óssea é método diagnóstico extremamente sensível para detectar precocemente, antes que mudanças estruturais possam ser detectadas no exames de raio-x. Em artigo publicado na American Journal of Nuclear Medicine and Molecular Imaging, os autores fazem um estudo das imagens que aparecem em diversas lesões no pé e tornozelo.

Fratura por Estresse:
São causas comuns de dor em corredores, devido à cargas anormais repetitivas. Estas cargas geram um desequilíbrio entre a ação osteoblástica (produção de osso) e o osteoclástica (reabsorção óssea) dos ossos, levando a microfraturas. Diferentes fatores de risco podem ser citados:
A fratura por estresse pode afetar vários ossos dos membros inferiores e pelve. Na corrida o mai comum é a tíbia, respondendo por aproximadamente 40% dos casos, seguida da fíbula. Pé e tornozelo representam 1/4 dos casos, sendo os metatarsais os mais acometidos, predominantemente o 1º e 2º metatarsal. São afetados também o calcâneo, tálus, o navicular e sesamoide. 
Pacientes com fratura por estresse apresentam dor sem histórico de trauma durante e após a corrida. Sem tratamento esta dor progride, podendo acometer mesmo durante o repouso.

Fascite Plantar:
É a causa de dor mais comum no calcanhar em atletas. Normalmente apresenta-se como uma dor agudo no meio do calcanhar ou no arco plantar. A dor é facilmente reproduzível na palpação durante o exame físico. A Fascite plantar esta associada a deficit na flexibilidade do tríceps e do tendão de Aquiles, além de relação com o aumento do arco plantar. Outros fatores de risco incluem:  "Overtraining", aumento treino em subidas, aumento da intensidade de corrida, calçados inadequados (sem amortecimento ou muito usados) e alterações na superfície de treino, O disgnóstico é normalmente baseado na história clínica e no exame físico. Porém imagens às vezes são necessárias para diferenciar de fratura de estresse. A cintilografia pode ser um destes exames, pois esta não só confirma o diagnóstico, como o local exato da inflamação.

Lesões no Tendão de Aquiles
Responde por aproximadamente 7% das lesões no pé e tornozelo durante a corrida, sendo mais comum nos homens. Afeta corredores com mais anos de experiência. Corredores que realizam o contato inicial com o calcanhar, tem possibilidade maior de desenvolver esta patologia. Este tipo de lesão, segundo os autores, é melhor diagnosticada com ressonância magnética.

Lesão do Tibial Posterior
O tendão do tibial posterior surge no terço distal da perna, passa atrás do maléolo medial e se insere em diversos locais do pé, incluindo os ossos navicular, cuneiforme, 2º, 3º e 4º metatarsais. Afeta corredores mais velhos já que o tendão encontra-se mais fragilizado, e jovens com histórico de excesso de treino. O estágio inicial se caracteriza por dor e edema no trajeto do tendão. O aumento na pronação do pé pode sobrecarregar o tendão do músculo, levando a uma lesão decorrente de um esforço de baixa intensidade e repetitivo, sem histórico de trauma. O diagnóstico precoce e a identificação desta alteração, aceleram a reabilitação, interrompendo o ciclo vicioso.

Sesamoidite
O osso sesamoide está localizado na parte posterior do 1º metatarso, dentro do tendão do Flexor curto do Hálux, aumentando sua eficiência mecânica. É lesionado devido a impactos repetitivos, comuns durante a corrida. Há várias causas de dor na região: fratura por estresse, trauma agudo, osteocondrite, osteoartrite e bursite.
Corredores com sesamoidite apresentam dor durante a postura em p, que pode ser exacerbada com a flexão passiva da articulação metatarsofalangeana. A cintilografia pode se usada para diferenciar entre fratura e as demais causas da patologia.


Tendinite dos Fibulares
É também uma lesão por "overuse" e pode apresentar como uma dor na parte lateral do calcâneo. Esta imprecisão pode levar a uma dificuldade de diagnóstico.

FONTE: Review of running injuries of the foot and ankle: clinical presentation and SPECT-CT imaging patterns; Am J Nucl Med Mol Imaging 2015;5(4):305-316


CORRIDA e LONGEVIDADE

Segundo Schnohr et al (2015) praticar corrida com altas intensidade e frequência, não é garantia de maiores resultados de sobrevida quando comparado com sujeitos sedentários. Praticar de 1 a 2.4 horas de corrida por semana, com frequência de 2 a 3 vezes, é mais favorável para a saúde e sobrevida do praticante, ou seja, "mais atividade neste caso não significa mais sobrevida". Os autores sugerem um gráfico em forma de "U-Invertido", quando relaciona intensidade de corrida X sobrevida, indicando perda de benefícios com corrida de alta intensidade.
Estes achados vai contra a máxima: "mais atividade física é melhor pra saúde e longevidade", porém encoraja o aumento do número de praticantes, em função da facilidade de obter resultados satisfatórios e alcançáveis com a pratica da corrida. 
Este resultado interessante possui algumas limitações, como o número pequeno de sedentários avaliados e o fato de não comparar com ativos não praticantes de corrida. Outra limitação é também a pequena amostra de corredores que praticavam a atividade com altos volumes (> 4 horas), o que limita o poder do teste estatístico.

É bom lembrar que existem outros estudos que obtiveram resultados contraditórios (Duck-chul Lee, 2015), encontraram maiores benefícios em quem pratica a mais tempo e por mais tempo a  corrida. Este mesmo estudo porém, confirma que pequenas doses já é suficiente para resultados positivos e significativos. Já outros estudos, realizados com maratonistas, indicam que a pratica de corrida em altas distâncias, pode gerar danos importantes ao miocárdio e aumento na possibilidade de perigosas arritmias (Mohlenkamp, 2008).
FONTE: Optimal Dose of  Running for Longevity. Is More Better or Worse? - JOURNAL OF THE AMERICAN COLLEG E OF CARDIOLOGY - VOL . 6 5 , N°. 5 , 2 0 1 5


LESÕES NA CORRIDA 2

Nova revisão sistemática sobre lesões mais comuns entre corredores, foi publicada recentemente na Sports Medicine (Maio de 2015). O objetivo foi avaliar a incidência de lesões por cada 1000 horas de treino, em corredores profissionais e amadores, de longa e curta distância. Treze artigos foram avaliados entre o período de 1987 a 2014. 
Os autores concluíram que o parâmetro lesões/1000 horas é uma medida importante de comparação de risco de lesão entre os estudos e concluíram também  que os corredores iniciantes tem um risco significativamente maior de lesão (17,8%) que os demais tipos de corredores. Não existem trabalhos consistentes sobre a incidência em corredores de maratona e atletas profissionais. 

FONTE: Incidence of Running-Related Injuries Per 1000 h of running in Different Types of Runners: A Systematic Review and Meta-Analysis - SPORTS MEDICINE, May-2015


SÍNDROME DA BANDA ILIOTIBIAL

A síndrome da Banda Iliotibial é uma lesão por esforço repetitivo que gera dor na face lateral do joelho, sendo bastante comum em corredores. Dor à palpação no epicôndilo lateral do fêmur, é um dos principais sinais da síndrome, inclusive este sinal é usado como teste na avaliação.
A banda iliotibial (BIT) é uma estrutura fascial composta por tecido conjuntivo que serve de inserção para o tensor da fáscia lata (TFL) e para o glúteo máximo (GM). Origina-se na crista ilíaca e se insere na patela externa, no retináculo patelar externo e no tubérculo de Gerdy (tíbia externa). Pode ser considerado um importante estabilizador lateral do joelho, essencial para a manutenção da postura ortostática.
Acredita-se que ocorra na BIT um deslizamento anterior e posterior durante a extensão e flexão do joelho respectivamente, o que acarretaria uma fricção e compressão de diversas estrutura nesta região com o epicôndilo. Além da fricção da BIT com o epicôndilo do fêmur, outra fonte que explica a síndrome é no tuberculo de Gerdy na tíbia. Durante a fase de contato da marcha, o membro apoiado realiza uma flexão associado como uma pequena rotação interna da tíbia, o que causa uma tensão nesta estrutura de forma repetitiva na caminhada e principalmente na corrida. Isto levaria a uma inflamação e dor na região, referida como "zona de impacto".
Fatores intrínsecos e extrínsecos poderiam explicar esta síndrome. Os fatores intrínsecos são adução e a rotação interna exageradas do membro inferior ao correr, fraqueza dos abdutores e rotadores externos do quadril que não controlam os movimentos exagerados citados anteriormente; o desequilíbrio muscular em volta do quadril; a diminuição da flexibilidade; a pronação excessiva durante a caminha ou a corrida e as alterações no alinhamento frontal do joelho (varo ou valgo) ou desalinhamento da pelve decorrente da discrepância no tamanho dos membros maior que 0,5 cm. 

Os fatores extrínsecos estão relacionados com o método de treino, com o calçado utilizado durante a corrida e o terreno aonde se realiza a pratica. Aumento exagerado das distâncias semanais e corrida em ladeira são os erros de treinamento mais comuns. 
Na avaliação fisioterápica é importante perguntar sobre os hábitos específicos de treinamento e que posições a dor aparece. Deve avaliar força dos músculos abdominais e do todo o grupamento dos membros inferiores, além de avaliar a flexibilidade. O teste de Ober e o teste de Noble devem ser utilizados. O teste de Ober avalia o comprimento da BIT e o teste de Noble pode reproduzir a dor através da compressão na zona de impacto, a presença de dor caracteriza um teste positivo.
Teste funcional, como mostrado abaixo, avalia a força e o controle motor dos músculos que limitam os movimentos exagerados de adução e rotação lateral da perna que podem estar presentes nos portadores da síndrome, inclusive estes mesmos testes, podem ser utilizados como forma de tratamento, melhorando a ativação muscular durante as atividades de descarga de peso.
TRATAMENTO (Fredericson and Wolf, 2005)
Fase Aguda:
  • Reduzir a inflamação na BIT => Controle dos fatores extrínsecos, repouso, uso de recursos fisioterapêuticos e medicamentos para controle do processo inflamatório.
Fase Subaguda:
  • Trabalhar flexibilidade e iniciar programa de fortalecimento;
  • Mobilização dos tecidos conjuntivos para diminuir as aderências.





Fase de Recuperação:
  • Fortalecimento muscular:


Fonte:
Iliotibial Band Syndrome: Soft Tissue and Biomechanical Factors in Evaluation and Treatment; The American Academy of Physical Medicine and Rehabilitation; Vol 3; June 2011.


TESTE PARA CORREDORES


A corrida tem se tornado um esporte comum, no entanto pode causar diversas lesões, principalmente de membros inferiores. Conhecer os fatores de risco para as lesões, pode ser uma estratégia importante na prevenção. Dentre os diversos fatores citados, a hiperpronação do pé, a limitação na dorsiflexão e o grau de mobilidade na primeira articulação metatarsofalangeana, são alguns dos fatores importantes citados e que possuem testes validados na literatura, que medem a extensão destas alterações. 

São eles:
  • Navicular Drop test (NDT): Mede a hiperpronação (VÍDEO);
  • Ankle Joint Dorsiflexion test (AJD-test): Mede a ADM da articulação do tornozelo (VÍDEO 2);
  • Extension First Metatarsophalangeal Joint test (MTP1-test): Mede o grau de mobilidade do hálux (VÍDEO 3).

Com o objetivo de avaliar a confiabilidade intra e inter avaliadores destes testes, foi publicado recentemente na BMC Musculoskeletal Disorders, um estudo com 46 corredores recreacionais. Os autores concluíram que o AJD-test teve uma boa confiabilidade, o NDT teve uma moderada e o MTP1 obteve uma baixa confiabilidade. Porém os autores concluíram que há necessidade de avaliar novamente os procedimentos em um estudo de maiores proporções.
A confiabilidade destes testes podem ser moderadas para a pesquisa, mas podem ser utilizados na pratica clínica, basta que o avaliador utilize de procedimentos padronizados e que siga em todas as medidas realizadas este mesmo procedimento.

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