segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Fisioterapia e as Substâncias de Livre Prescrição - Parte 1

Acordão publicado em 1° de abril de 2017, número 611, aprovou, por unanimidade, a normatização da utilização e/ou indicação de substâncias de livre prescrição pelo fisioterapeuta, observando-se ainda que:
I – O fisioterapeuta poderá adotar as referidas substâncias, de forma complementar à sua prática profissional, somente quando os produtos prescritos tiverem indicações de uso relacionadas com o seu campo de atuação e embasadas em trabalhos científicos ou em uso tradicional reconhecido, atendendo aos critérios de eficácia e segurança, considerando-se as contraindicações e oferecendo orientações técnicas necessárias para minimizar os efeitos colaterais e adversos das interações existentes, assim como os riscos da potencial toxicidade dos produtos prescritos.

São considerados substâncias de livre prescrição: plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos/fitofármacos, medicamentos antroposóficos, medicamentos homeopáticos, medicamentos ortomoleculares, florais, medicamentos de livre venda para fonoforese e iontoforese, fotossensibilizadores para terapia fotodinâmica nos distúrbios cinético-funcionais.


Estudo de revisão publicado em 2017 na Nutrients, levantou as informações científicas disponíveis sobre determinadas plantas medicinais que já foram testadas em humanos. Vamos mostrar algumas delas e suas evidências mais recentes.

(1)- Arnica montana
Esta planta tem sido usada há séculos no herbalismo tradicional como remédio para condições relacionadas ao trauma, distensão e/ou inflamação do sistema locomotor, e é um dos remédios naturais mais utilizados para condições reumatológicas.
Knuesel O, et al (2002) publicou um ensaio clínico multicêntrico aberto que investigou a segurança e a eficácia de um gel de planta fresca de Arnica montana, aplicado duas vezes ao dia, em 26 homens e 53 mulheres com osteoartrite leve a moderada (OA) do joelho. Após 3 e 6 semanas, houve diminuições significativas nos escores médios totais no WOMAC. As pontuações nas sub-escalas de dor, rigidez e função também mostraram reduções significativas. A taxa global de eventos adversos locais foi de 7,6% que incluiu apenas uma reação alérgica. Sessenta e nove pacientes (87%) avaliaram a tolerabilidade do gel como "bom" ou "Muito bom" e 76% o usariam de novo. A aplicação tópica de Arnica montana gel durante 6 semanas foi um tratamento seguro, bem tolerado e efetivo de OA leve a moderada do joelho. 
Os efeitos de ibuprofeno (5%) e arnica (50 g de tintura / 100g,  DER 1:200), como preparações de gel em pacientes com osteoartrite e com confirmação radiológica sintomaticamente ativa das articulações interfalângicas das mãos, foram avaliadas num estudo aleatorizado, duplo cego em 204 pacientes, para verificar diferenças no alívio da dor e função da mão após 21 dias de tratamento. O estudo não mostrou diferenças significativas entre os dois grupos na dor e nas melhorias da função da mão. Eventos adversos foram relatados por seis pacientes (6,1%) que usaram ibuprofeno e em cinco pacientes (4,8%) que usaram arnica. Os resultados confirmam que a preparação de arnica não é inferior ao ibuprofeno ao tratar osteoartrite das mãos (Widrig, R, 2007). Resultados semelhantes foram descritoe em uma revisão da Cochrane (2013).

(2)- Boswellia serrata
Usado há séculos na medicina Ayurveda (onde se chama sallaki) Boswellia serrata (BS) produz uma resina de goma, conhecida como incenso, eficaz no tratamento de distúrbios inflamatórios [30], particularmente artrite. Hoje em dia, muitas combinações anti-artríticas contêm BS.
Uma revisão sistemática da Cochrane (2014), concluiu que as preparações da BS "mostram tendências de benefícios", quando utilizadas para o tratamento da OA, associadas a uma baixa carga de efeitos colaterais, citando dois estudos de alta qualidade e dois de qualidade moderada demonstrando superioridade comparado ao placebo em reduzir a dor e aumentar a função. 
Uma formulação contendo extratos de Curcuma longa e Boswellia serrata foi avaliada quanto à segurança e eficácia em pacientes com osteoartrite e diretamente comparada com o inibidor seletivo de COX-2, o celecoxib (Kizhakkedath R, 2013). No total, 54 indivíduos foram selecionados, 30 indivíduos participaram do estudo, sendo que 28 foram até o final. O tratamento foi bem tolerado e não produziu nenhum efeito adverso nos pacientes. As substâncias (500 mg) administrada duas vezes ao dia, foi mais bem sucedida do que a administração de celecoxib 100 mg duas vezes ao dia, na avaliação de sintomas e no exame clínico. Foi considerada segura e nenhuma toxicidade relacionada à dose foi encontrada.

(3)- Curcuma
Os extratos de Curcuma demonstraram ser úteis na osteoartrite do joelho, reduzindo a dor e preservando a funcionalidade, com uma eficiência equivalente ao ibuprofeno, porém com menos efeitos colaterais gastrointestinais (Kuptniratsaikul, V, 2014). Uma meta-análise recente encontrou evidências científicas relevantes para a eficácia da Curcuma como uma opção terapêutica na artrite, mas concluiu que são necessários mais estudos para comprovar sua eficácia.

(4)- Equisetum arvense
Equisetum arvense, também conhecido como rabo de cavalo, tem uma longa história de uso na etnomedicina européia como remédio anti-inflamatório. O efeito benéfico da rabo de cavalo na atrite reumatóide foi fundamentado por um estudo que apontou a diminuição do TNF-alfa como um dos mecanismos contribuintes.

(5)- Harpagophytum procumbens (HP)
Também conhecido como garra do demônio, uma planta medicinal nativa da África, é uma "celebridade" entre os remédios naturais anti-osteoartrite, sendo aprovada na Alemanha para o tratamento de doenças degenerativas do sistema músculo-esquelético.
Vários estudos clínicos em humanos mostraram que a HP (50-60 mg por dia, administrados por um período variável entre 8 e 16 semanas, dependendo do estudo) melhoraram significativamente o quadro clínico de indivíduos com osteoartrite do joelho e do quadril em termos de dor, limitação de movimento e sinais de crepitação.

(6)- Panax notoginseng
Panax notoginseng (PN), conhecido como sanqi em chinês, tem uma longa história de uso clínico para o tratamento de lesões traumáticas, edema e dores. A mesma combinação de PN com Rehmannia glutinosa e Eleutherococcus senticosus, administrada como cápsulas, 4 cápsulas de 400 mg por dia durante seis semanas, melhorou a função física e a dor de acordo com a versão coreana do questionário WOMAC em 57 pacientes com OA no joelho e foi considerado efetivo para alívio sintomático.

FONTE: Dorin Dragos, et al.; Phytomedicine in Joint Disorders; Nutrients 2017, 9, 70.

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